terça-feira, 10 de junho de 2008

Ananias Neto: o homem que revolucionou as eleições de 1982

Por Kaysterly Pinto e Suellen Wolff

O parlamento nos dias atuais está uma verdadeira falta de ordem. Políticos não se comprometem com as necessidades da população, muitos não comparecem às sessões da Assembléia Legislativa, não há sequer uma questão de respeito por parte dos deputados que, sem se preocuparem com a reação do público que está a assistir a uma das sessões parlamentares, literalmente viram as costas para aquilo que realmente deveria ser de sumo interesse: a representação política da população, e não conversas aleatórias como as que são vistas na Assembléia. Tudo acontece sem nenhuma discrição ou algum tipo de acanhamento.

No momento em que nos encontramos, vários são os descasos dos políticos em detrimento da população, escândalos envolvendo o dinheiro público – o tão debatido mensalão, cassação de mandatos de parlamentares por inúmeros motivos e, não param por aí, a todo o momento é como se explodisse uma bomba em meio a um campo minado pelos interesses próprios dos representantes no parlamento, que tem o efeito refletido diretamente e, sem sombra de dúvida, na população – a que realmente se prejudica com a situação irresponsável. Não muito distante, o deputado José Dirceu do PT-SP teve a cassação pedia pelo PTB aprovada com 293 votos a favor e 192 contra na Câmara dos Deputados. O ex-ministro teve seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar por possível envolvimento no “escândalo do mensalão”. Se não foi para representar a população em favor da sociedade, garantindo, assim, uma mudança, para que muitos candidatos se elegem? Apenas para ocupar lugares na Assembléia, ou ainda nem comparecem, têm apenas seu nome reservado e uma posição de destaque?

Muitos para chegarem ao poder prometem mudanças, mundos e fundos, mas na verdade não servem nem sequer para uma simples representação dos interesses da população, então para que servem?

O desinteresse da população para a atuação parlamentar é alarmante. A população não tem o hábito de, pelo menos uma vez por semana, investir um pouco de seu tempo para “ficar por dentro” de como tal deputado está representado o seu voto, e dos demais na Assembléia Legislativa ou na Câmara dos Vereadores. O problema só tem se agravado cada vez mais, muitos cidadãos nem sequer tem o conhecimento a cerca de como funciona o Parlamento.

Em análise à atuação parlamentar dos dias atuais com a que fora exercida nos anos 80. Certamente muita coisa mudou nesse período de mais de vinte anos.

Instrumento para benefícios próprios, lugar de disputa, de interesses, assim era visto o Parlamento nos anos 80 e continua sendo uma prática de descaso com a população. Sem generalizar, muitas pessoas se candidatavam em busca de poder. Em uma campanha eleitoral, dificilmente um executivo perdera uma campanha, uma vez que dispusera de condições necessárias para fortalecer à mesma, sem falar que as relações de poder propiciam uma posição de destaque no parlamento, ou melhor, um passo para estar no poder.

Diferente dos dias atuais, o parlamento dos anos 80, não havia mensaleiros, porém a corrupção nunca deixou de existir em meio a muitos políticos, que para garantir apenas uma posição de destaque.

A política nos anos 80 no Brasil foi marcada pela ditadura militar, onde o governador do Maranhão, na época João Castelo, proibia qualquer tipo de manifestação política, mesmo com todos os movimentos estudantis e demais existentes na época. Sindicatos estavam sendo criados na época, partidos como o PT estava se estruturando. Foi um período de muita efervescência política, mesmo com a ditadura militar em vigência.

Surge nesse contexto, a participação de um jovem universitário de baixa renda, que não tinha um nome na sociedade, sem falar que não possuía experiência política, se contextualiza com a participação no diretório acadêmico da UEMA – onde estudava, tendo participação em alguns movimentos sociais da época, com participação da greve da meia passagem. Ananias Neto apoiava o que acreditava ser a força motriz na política: os movimentos sociais. “Uma candidatura que apoiaria os movimentos populares, e que uma vez eleito não me arriscaria na política convencional, mas sim nessa força que se constituía pelas pessoas em si” diz.

Ananias Neto terminando o curso de Agronomia pela Universidade Estadual, juntamente com alguns jovens da UEMA, procurados por Haroldo Sabóia em 1982, na época buscando reeleição a deputado estadual, para juntos pensarem na possibilidade de uma candidatura, porém de forma não convencional, pois as condições não propiciavam para ambos na época.

Estava se candidatando para vereador nas eleições no final de 1982 pelo PMDB, partido que defendia uma oposição e luta contra o governo. No ano, o voto seria vinculado, os eleitores eram obrigados a votar em candidatos do mesmo partido. A campanha eleitoral se deu de forma bastante árdua. Ainda estudante na época, servidor público, sem carro, sem condições de realizar uma campanha eleitoral com todos os recursos de alcance. De ônibus, usando passe escolar, deslocavam-se aos bairros da capital onde se faziam pequenas reuniões. “Nas reuniões e discursos em que participávamos, explicávamos o porquê da candidatura, não havia promessas, nem troca de votos por algo que a população estivesse necessitando”, declara Ananias. Eram feitas rifas para investimento na campanha, o papel para material de apoio de campanha era doado, enfim, havia bastante desempenho acreditando que seria possível promover uma política na qual a força de lutar viesse a suprir resultados.

Sem experiência política partidária, ou um programa de governo, mas tendo um ponto forte a que se candidatava, durante sua campanha, havia vários fatores de diferenciação, desde a forma como, financeiramente foi realizada a campanha até a forma de discurso. Ananias Neto possuía um discurso claro, e que fazia bastante diferença. A contundência do discurso, um discurso bem nítido, contra a ditadura militar, os representantes na época, a oligarquia Sarney e seus indicados.

Em seu material de campanha que, com certeza foi um fator de diferenciação na campanha eleitoral, trazia informações dos candidatos, Ananias Neto para vereador e Haroldo Sabóia para deputado estadual bem como suas atividades e escolaridade, uma breve apresentação de sua candidatura. O slogan de campanha “Vote contra o Governo” trouxe uma carga muito forte, um impacto na sociedade que estava acostumada a acomodações. A população ludovicence, viu nessa proposta uma tentativa de mudança, em plena ditadura militar. Contribuiu para chamar a atenção daqueles que estavam ingressando na participação política radical e servia para abrir os olhos daqueles que, assim como eles, ansiavam por mudanças.

Ananias Neto venceu as eleições como o vereador mais votado de São Luís, foram oficialmente 3.973 em toda a cidade de São Luís.

Eleito, Ananias não seria candidato para si mesmo. “Seria uma candidatura que apoiava os movimentos sociais. Para reorganizar a sociedade brasileira e combater o capitalismo, para implantação de uma dinâmica que implantava um luta de transformação”, conta. Ananias declara que, “a participação de jovens acreditando na possibilidade de fazer no Maranhão uma transformação da sociedade, e daí o porquê da importância de ter um mandato na Câmara de São Luíz que pudesse exprimir essas vontades políticas” conta.

Uma de suas ações políticas bastante significativas e que hoje não mais possui tanta credibilidade quanto na época, foi a Lei do sábado à tarde livre, visando trazer benefícios aos comerciários que, em alguns casos, tinham jornada tripla. A Lei, juntamente com o Sindicato dos Comerciários beneficiava os comerciantes para a partir do meio dia aos sábados, fechasse suas lojas. “Foi um projeto que gerou muita polêmica, pancadaria e muita confusão. Muito representativo pelo grau de pessoas atingidas pelo projeto e o que ele repercutiu na época” conta.

Fazendo um balanço de sua atuação parlamentar nos anos 80 para a atuação dos parlamentares atualmente, Ananias considera o parlamento nos dias atuais, como foi no passado, continua ainda hoje uma prática de interesses, e não se constitui numa forma de solução para a mudança da sociedade. Para ele, a esquerda no parlamento no seio da política maranhense não existe.

“A mudança da sociedade é necessário que seja pela política. Não acredito no parlamento como instrumento de mudança, ou na Economia gerando o destino das pessoas e das nações, em pacto de elite, conciliações. Enfim, não acredito em meio termo, acomodações. Acredito na política e na participação das pessoas como real instrumento de mudança”, declara Ananias, que rejeitando uma idéia negativa, ainda acredita que haverá uma mudança radical nessa sociedade que está acostumada a acomodações.

Saiba mais
Mensalão: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u70256.shtml
Cassação de mandatos: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u72272.shtml
Deputado José Dirceu: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u74283.shtml
Ditadura Militar: http://www.suapesquisa.com/ditadura/
UEMA: http://www.uema.br/

Greve da meia passagem: http://www.jornalpequeno.com.br/2004/9/16/Pagina5089.htm