sexta-feira, 20 de junho de 2008

Crise no jornalismo: buscando soluções éticas

Por José Ribamar Campos Neto

Falar de ética na imprensa não é tão fácil como parece. Nos, jornalistas adoramos mostrar a falha ética dos outros, mas quando se trata da ética na imprensa, somos um pouco corporativistas e estamos sempre tentando justificar tal comportamento.

Pois bem, hoje não tem desculpas.

Vamos fazer o nosso “mea culpa” e assumir que assim como existem excelentes profissionais na imprensa, também encontramos algumas “ovelhas negras” que muitas vezes põem a credibilidade de todo o rebanho a perder e acabamos sendo taxados de sensacionalistas, de distorcemos os fatos e até somos tratados com certo “receio” pelas nossas fontes.
Mas o que esta acontecendo? Estamos vivendo ou não uma crise na ética jornalística? Para sabermos a resposta precisamos primeiro saber o que é ética. Então vamos às suas origens.

Ética em grego é ethos e que dizer costume/modo de agir. A palavra moral, que vem do latim mores também que dizer costumes. Que dizer que as duas palavras são iguais? Para Lilia Pinheiro, mestre em filosofia pela Universidade do Ceará, a ética é “a maneira de pôr em prática os valores morais. A ética refere-se à vida pública e a moral ao comportamento individual” explica.

Baseando-nos nessa definição fica claro que com relação ao jornalismo, o problema e ético e não moral, tendo em vista que a atividade jornalística visa o interesse público (ou pelo menos deveria) por meio da promoção do debate de idéias no espaço público. Além disso, ninguém escreve textos para ficarem engavetados, pelo contrário, a produção jornalística é para ser divulgada com o fim de informar, opinar despertar a reflexão sobre um determinado assunto.

Crise
A crise ética no jornalismo é uma realidade. Condutas duvidosas de maus profissionais que forjam fontes, aumentam ou omitem o que uma fonte declarou, publicam algo que foi dito em off, inventam um fato e agem com o sensacionalismo estão se tornando uma prática corriqueira na imprensa, e o pior, de forma consciente.

Para Ingrid Assis, estudante do 8 período de jornalismo da Universidade Federal do Maranhão, essa conduta inadequada dos jornalistas se deve a dois fatores:a falta de punição por parte dos órgãos fiscalizadores e a algumas pressões sofridas pelos jornalistas no mercado de trabalho. “Aqui em São Luís temos um sindicato que não é atuante e por outros lados temos um mercado de trabalho restrito e com poucas vagas, fazendo com que o jornalista se sinta pressionado a tomar determinadas atitudes unicamente para não perder o emprego”, afirma.

Transferir a responsabilidade de um ato que é exclusivamente fruto da cognição do jornalista, como o ato de escrever ama matéria, é como “malhar em ferro frio”. Não leva a nada. A conduta duvidosa de determinados profissionais da imprensa é fruto exclusivamente da falta de caráter e personalidade do indivíduo, como afirma a jornalista Célia Lindoso que tem 24 anos de atuação e ex-diretora de ética da Associação Maranhense de Imprensa.
Competição e disputa no mercado de trabalho sempre existiram e continuará existindo em todas as profissões. Agora, cabe ao profissional ter discernimento do que é certo e errado e não deixar se corromper facilmente. “Mais isso só é possível se ele tiver uma boa base de valores e coloca-los em prática”, explicou.

É bem verdade que a falta de caráter e personalidade é fator decisivo na conduta jornalística. Mas como citado anteriormente pela estudante Ingrid Assis, a impunidade também agradava e até estimula a situação.

Impunidade
Falando de impunidade, imediatamente lembramos do Código de Ética dos Jornalistas, que foi criado em 1987e fixa as normas a que se deve subordinar o profissional nas suas relações com a comunidade, com as fontes de informação e com os demais jornalistas. Durante dez anos o Código não passou por nenhuma alteração, somente ano passado (2007) é que ele foi reformulado.

Embora as alterações do novo Código tenham sido discutidas entre profissionais e entidades representativas dos jornalistas, há quem diga que algumas delas não são aplicáveis ao mercado de trabalho. É o que diz a estudante de jornalismo do 5 período da Faculdade São Luís Ana Paula Nogueira. “Tem um artigo que diz que o profissional pode se recusar a exercer qualquer tarefa em desacordo com os princípios éticos do código ou que agridam as duas convicções. Isso para mim é pura utopia. Quando nos recusamos a fazer algo dentro da empresa, logo o profissional fica marcado pelo chefe, isso quando ele não é demitido dispara”.

Sejamos realistas. A alta de fiscalização e impunidade por parte dos órgãos responsáveis, as “pressões” por parte do escasso mercado de trabalho, a falta de caráter individual do jornalista e a falta de aplicabilidade do novo Código estão realmente interligados. Isso porque as discussões em torno da ética jornalística, não podem ser maniqueístas, atribuindo a este ou aquele motivo.
Todos os motivos acima relacionados, aliados a falta de discussão do tema nas universidades são fatores condicionantes para a crise ética que estamos vivenciando.

Conseqüências
Com certeza o maior prejudicado com todos esses desvios de conduta dos jornalistas é o público (leitor, telespectador, ouvinte ou internauta) que recebe as informações de forma verídica, aprofundada e isenta de interesses. Vemos aumentar a cada dia a ética negociada na imprensa, com um jornalismo baseado no denuncismo, na criação de factóides e na construção ou destruição da imagem das pessoas sem o menor medo/reflexão por parte dos jornalistas sobre as conseqüências dessas atitudes.
O jornalismo utilizado de forma inadequada faz com que, não só o veículo, perca credibilidade por parte da audiência, como também o jornalista, que deixa de exercer o seu papel de mediador social. De acordo com Joselle Couto, professora da disciplina de ética para o curso de jornalismo, o jornalista tem que arcar com a responsabilidade em relação às notícias que divulga. “O jornalista tem o poder de mobilizar a ação a das pessoas, de criar novas realidade ou manter as existentes conforme as suas palavras. É preciso ter cuidado para não faltar com a verdade”, adverte.

Faltar com a verdade é inadmissível em qualquer profissão. No jornalismo mais ainda, porque ele é considerado o principal pilar da democracia. É necessário aumentar o controle ético da notícia e estimular debates/reflexões sobre a atuação profissional e a ética no mercado de trabalho para que ao chegar ao mercado de trabalho os estudantes já estejam conscientes de seus atos e das conseqüências de uma escolha errada. A imprensa e seus profissionais têm que parar somente de julgar o comportamento ético dos outros e começar a olhar para o seu umbigo também. Ou será que a imprensa não gosta de ver suas más condutas estampadas nas páginas dos jornais?

Vídeo: Bate papo sobre Ética e Jornalismo com Eugênio Bucci: