terça-feira, 10 de junho de 2008

Estudar No Exterior

Conhecer outra cultura e ainda falar outro idioma é um atrativo para estudantes

Por Maira Schneider e Rafaela Lima


Viajar, conhecer novas culturas, aprender ou aperfeiçoar um idioma, trabalhar e, de quebra, conhecer outros países, outras pessoas e crescer profissionalmente é o sonho de qualquer estudante com o mínimo de interesse em investir na carreira. Isso é possível fazendo o famoso intercâmbio cultural.

Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra intercâmbio significa permuta, troca. O intercâmbio cultural proporciona justamente isso: troca de conhecimentos, permuta de vida e de línguas. Fazer intercâmbio é uma prática em alta e cada vez mais crescente, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. É comum ver países com um número muito grande de asiáticos, alemães, americanos e indianos.

A prática de morar em outro país para aprimorar ou aprender um idioma começou no início do século nos Estados Unidos, com o objetivo de promover interação entre povos e a paz mundial. Quando começou, o estudante brasileiro ia para Estados Unidos e, necessariamente, um estudante americano vinha para a sua casa no Brasil. Atualmente, pode designar qualquer programa em que haja troca de informações culturais, pois, quando um brasileiro ou pessoa de qualquer outra nacionalidade vai estudar em outro país, ele não apenas está adquirindo conhecimento sobre a cultura daquele país, como também leva a sua cultura para este local.

Quando começou, o intercâmbio se caracterizava por um período mínimo de seis meses e máximo de um ano e, também, o único destino era os Estados Unidos para fazer o colegial. Hoje, o período mínimo de um programa de intercâmbio é de duas semanas, sem período máximo e com destino para países de várias línguas diferentes. Os mais comuns ainda são os falantes da língua inglesa, porém, o número de estudantes que procuram outras línguas, como francês, espanhol, alemão e chinês tem crescido consideravelmente. Dentre os países da língua inglesa, o Canadá, a Austrália e a Irlanda são os mais procurados. Após o atentado de 11 de setembro aos Estados Unidos, o Consulado Americano limitou e dificultou a emissão de vistos, o que faz os estudantes optarem por outros destinos menos burocráticos.

O mercado só tende a crescer. Segundo dados da Belta (Brazilian Educational & Language Travel Association), em 2004, 42 mil brasileiros foram estudar no exterior. Em 2007, este número chegou a 70 mil, um crescimento de 30% ao ano, aproximadamente.

O que proporcionou este crescimento? A necessidade do mercado de trabalho em ter profissionais com experiência de vida, aprimorar outra língua, o custo-benefício de um programa de intercâmbio. A Belta lista estudos acadêmicos como uma das principais razões.

Os Programas
A versatilidade e o grande leque de variedades de cursos são um dos maiores atrativos para quem vai estudar fora. De cursos básicos de idiomas a estágios remunerados na sua área de trabalho, o estudante tem a possibilidade de escolher e moldar exatamente o que quer fazer enquanto estiver no exterior.

Cursos de idioma – o estudante pode optar por fazer um curso no idioma de sua escolha, em mais de 50 países. Agências oferecem uma grande variedade de cursos e escolas, que geralmente tem uma ótima infra-estrutura e departamentos internacionais prontos para ajudar, desde assuntos burocráticos até conversas para amenizar a saudade de casa. Esses cursos geralmente começam todas as segundas-feiras e tem a duração mínima de duas semanas. A idade permitida varia entre escolas e programas, mas a média é de 18 anos.

High School – é o colegial no exterior. O aluno estuda numa escola de segundo grau no local escolhido, aprofunda as mesmas matérias que estuda no Brasil e dá continuidade à seus estudos. O MEC convalida as matérias estudadas na escola estrangeira. A idade média para cursar o segundo grau é de 15 a 18 anos. Alguns países aceitam com 19 anos, desde que o aluno esteja disposto a fazer um ano a mais de Ensino Médio, o chamado quarto ano adicional.

Intercâmbio de Trabalho – Não tem curso de idiomas e o intercambista vai apenas trabalhar e fazer dinheiro. As áreas de atuação abrangem cassinos, resorts, hotéis, restaurantes e parques temáticos. O trabalho é temporário, geralmente em alta estação e, a remuneração é semanal e calculada por hora.

Programas de Férias – Têm a duração de um mês e é realizado em janeiro e julho, período de férias escolares no Brasil. O programa inclui, além do curso de idiomas, uma programação cultural e de lazer voltada para os adolescentes. A idade mínima para participar é de 12 anos, mas depende da instituição estrangeira.

Au Pair – Programa de trabalho para moças entre 18 e 26 anos. Uma Au Pair mora com uma família no exterior e cuida de seus filhos, em troca de moradia, alimentação e estudo. Tem um ótimo custo-benefício e é um dos programas que mais cresce no Brasil.

Trabalho Voluntário – é o “lado social” do intercâmbio. Trabalho voluntário em vários países e várias áreas, como o trabalho na reserva animal da África, por exemplo. Não são remunerados e algumas vezes pagam ajuda de custo para o estudante.


Os procedimentos
Fazer um intercâmbio não é tão simples quanto parece. Muitos jovens encaram a dúvida de escolher primeiramente o local e o tipo de programa adequado a sua idade e seu objetivo. “Na minha idade, o High School era o único programa que eu podia fazer”, declara Rômullo Athaídes, 16, estudante, que atualmente está cursando o colegial e mora na cidade de Juda, estado de Winsconsin, nos Estados Unidos, há quase 10 meses. “Mas, apesar de não poder escolher outro programa, pelo menos sempre quis morar nos Estados Unidos”, diz ele.

Para a administradora Karina Marçal Maia, 27, o internato na Inglaterra foi a opção certa. “Eu queria fazer intercâmbio de qualquer jeito e meus pais não queriam me mandar para os Estados Unidos. Eles diziam que eu iria ser ‘empregada’ dos outros. Na época, existia muita lenda a respeito. Então, fui a uma agência e me informei sobre todos os programas possíveis para a minha idade – na época eu tinha 16 anos - e descobri um internato na Inglaterra. Caiu como uma luva”, declara. Hoje, 10 anos depois de ter voltado, Karina trabalha com intercâmbio. É consultora de marketing da agência Via Mundo, empresa que a levou para Inglaterra, e leva grupos para o exterior nas férias. “Fazer intercâmbio me deu idéia de mundo, me fez enxergar que existe muito mais a ser conquistado. Além disso, pude desenvolver minha independência enquanto pessoa, pois sempre tive a minha mãe fazendo tudo pra mim”, confessa.

Já o piloto Eduardo Buzar, 20, optou por um curso de idiomas no Canadá. “Primeiramente pensava em ir para os Estados Unidos, porém, pelo preço, cultura, acessibilidade, dentre outros fatores, me fizeram optar pelo Canadá”, afirma ele, que passou três meses no Canadá. “Fazer intercâmbio muda todo o nosso interior, nosso amadurecimento, nossa forma de pensar. Apreciar outros povos e países com culturas diferentes da nossa, vendo as diferenças entre cada um, onde podemos tirar melhor o proveito dos dois. Passei a ver a vida com outros olhos”, afirma Eduardo.
Depois de escolhido o destino e tipo de programa a ser feito, chega a hora burocrática de todo o processo: organizar os papéis. Para os marinheiros de primeira viagem, tirar o passaporte é o primeiro de vários outros papéis que devem ser providenciados. Se o país precisar de visto, a listagem de documentos aumenta mais ainda. Imposto de Renda, comprovantes de movimentação bancária, carteira de trabalho e, mais importante, comprovantes de quaisquer tipos de laços com o Brasil – declaração de cursos universitários, registros de imóveis. Também, é necessário anexar a carta de confirmação de curso no exterior, emitida pela escola.

Algumas dificuldades já começam desde então. Se o destino escolhido for os Estados Unidos, além de toda a papelada normal, uma entrevista individual é necessária – o tempo de espera para conseguir agendar uma entrevista em qualquer um dos cinco consulados americanos é entre um e dois meses. Para vistos australianos, o estudante tem de fazer exames médicos de rotina, como raio-x do tórax, exames de sangue e de escarro. Seria fácil, se não precisasse que estes exames sejam feitos com um médico credenciado pelo consulado. O mais perto de São Luís fica em Fortaleza, o que gera um gasto adicional para o cliente.

O próximo passo é a passagem. Devido à maior facilidade de visto, passagens para o Canadá, por exemplo, são demasiadamente difíceis de conseguir. A Air Canada, empresa canadense de aviação que realiza vôos regulares para o Canadá saindo de São Paulo, conseguiu uma autorização junto ao governo canadense para realizar mais vôos, porém, o governo brasileiro não autorizou este aumento. As tarifas estão ficando cada vez mais caras e mais difíceis de emitir. Por esta razão, uma das precauções das agências é fazer reservas para seus grupos, principalmente na época de alta estação.


Quais as Vantagens?
Uma das grandes dúvidas do estudante é: fazer intercâmbio é realmente um bom investimento? Na opinião da publicitária Isabella Paixão, 25, fazer um intercâmbio é muito importante. “Sou formada em publicidade e propaganda, então, falar inglês seria muito importante para a minha profissão”, diz ela, que atualmente mora em Toronto, no Canadá. “Vim ficar seis meses e estou até hoje. Percebi que seis meses não era tempo suficiente para aprender inglês, já que eu não sabia nada”, declara Isabella.

A estudante de enfermagem Rebeca Arrais, 19 anos, está se preparando para passar 10 meses estudando nos Estados Unidos. “Na verdade, queria ir a muitos outros países, mas, no momento, o país mais oportuno é esse”, diz ela, que está na fila de espera para a entrevista de visto. Rebeca vai passar esse tempo em uma escola cristã dando continuidade ao seu trabalho religioso no Brasil. “Espero conquistar mais independência, autoconfiança, uma visão mais ampla do mundo e das possibilidades. Espero que profissionalmente, enriqueça meu currículo e amplie minhas capacidades, abrindo novas oportunidades”, anseia ela.

Qual o papel das agências nesse processo? Além de organizar todo esse processo, as agências dão todo o suporte ao estudante no Brasil e no exterior. “Alguns ligam pra gente com bastante freqüência para resolver vários tipos de assuntos. Carteira de motorista vencida, uso de seguro internacional, extensão de prazo, visto que está prestes a vencer, renovação de bilhete... os motivos são variados. Alguns até têm a gente no MSN e pedem para ligarmos para a casa deles quando estão on line e avisar os familiares” diz Rafaela Lima, gerente da agência Yázigi Travel em São Luís. “A vantagem é deles e também nossa. Quando mandamos um cliente para estudar fora, é como se eu tivesse mandando um filho. Eu já fiz intercâmbio muitas vezes e realizo meu sonho através dos meus clientes”, relata Rafaela, que já morou nos Estados Unidos por um ano e na Suíça por seis meses. "Aí aproveitei, né? passeei pela europa, e meu trabalho me levou pro Canadá", contabiliza ela.

O piloto Eduardo não precisou dos serviços da agência que o levou para o exterior, a CI. “Acredito que, se tivesse precisado, eles me dariam todo o suporte. Pelo menos é o que eu espero”, diz ele.


Voltando para casa... e agora?
Depois de passar um tempo fora de casa e longe dos amigos e da família, o que muda? Muita coisa. Você agora é fluente em outra língua, tem amigos internacionais e conhece vários outros países. Muitos dizem que se adaptar ao seu próprio país na volta é mais difícil do que se adaptar ao país do intercâmbio. “Quando voltei, tive um choque. Eu tinha evoluído bastante na questão da minha independência, de cuidar das minhas coisas e da minha vida, mas meus pais e minha família, não. Então, conflitou”, diz a administradora Karina.

Enquanto estamos fora, damos valor a muitas coisas. “Na verdade, descobri que amo o Brasil. Na minha opinião, todo mundo precisaria e deveria passar por essa experiência. (...) Aprendi a dar valor às pequenas coisas da vida, como, por exemplo, poder sair na rua usando chinelas havaianas. Respeitar o próximo, pois quando a gente faz intercâmbio, a gente conhece pessoas do mundo inteiro”, diz Isabella.

“Respeitar a cultura de cada um, respeitar como as pessoas são. Eu penso totalmente diferente de como eu pensava antes. Parece que eu vivi 10 anos em um só”, conclui o estudante Rômullo.

Enfim, o intercâmbio é um grande marco na vida de quem o faz. Crescer como pessoa, como cidadão, dar valor ao seu povo e à sua cultura, além de conhecer outros países e dar um bom upgrade no currículo são apenas algumas das coisas boas que ele traz. Coisas que só quem é um cidadão do mundo pode saber.



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