quinta-feira, 19 de junho de 2008

A luta pelos sonhos: Reforma Agrária e Educação

Por Lorena Amorim

Ao nascer, o Movimento dos Sem Terra (MST) postulou três objetivos ou reivindicações básicas: terra, reforma agrária e transformações gerais na sociedade.

Desde os anos 50 os trabalhadores se organizam para se manifestar e lutar em prol da realização da reforma agrária. As manifestações ganharam volume com a política de reformas de base ensaiada pelo governo João Goulart nos anos 60, interrompida pelo golpe militar de 1964.

Com o golpe militar, a política fundiária de assentamento foi interrompida e a questão agrária tomou outro rumo. Em duas décadas de governos militares, estes, de um lado, trataram de silenciar as manifestações organizadas promovendo repressão a todo e qualquer tipo de resistência e, de outro lado, praticaram uma política de modernização da agricultura, ao mesmo tempo em que permitiram a apropriação de imensas áreas de terra por parte de grupos empresariais.

Não só a luta da terra se modificou conforme os períodos históricos da sociedade brasileira. Também a educação sofreu alterações de acordo com o contexto sócio-histórico.

O educador Paulo Freire, foi muito importante com sua proposta de alfabetização de adultos, mas não só porque elaborou essa proposta, também por ter elaborado uma filosofia que coloca o oprimido como o principal sujeito da superação da opressão. Cabe ao oprimido suprimir a relação em que o desejo de ser mais do que opressor faz do oprimido um ser menos. O fim da relação de opressão conduz tanto do oprimido quanto do opressor. A educação popular ganhou com Freire um grande impulso, sendo retomada como um pilar da proposta pedagógica do MST.

Educação popular, na perspectiva do MST, é uma educação voltada à realidade, ao conhecimento do próprio meio onde vivem os educandos e voltada para o mundo.

Os movimentos sociais tomam para si os desafios de construir uma escola pública, democrática e de qualidade. Os movimentos sociais atuantes estão preocupados com a educação e começam a dar início à reflexão e à construção de uma Escola Básica do Campo, uma resposta ao modelo de escola única pretendida. A proposta pedagógica do MST ancorou a educação nos interesses sociais, políticos e culturais dos trabalhadores assentados, marcando um distanciamento em relação à tentativa de homogeneização do pensamento e da ação educacional, próprio das atuais políticas públicas governamentais em âmbito nacional.

Roseli Salete Caldart, em seu livro Pedagogia do Movimento Sem Terra, busca compreender a “experiência de formação dos sujeitos do MST”, assim como a experiência de produção da identidade social, cultural e política, enquanto estes constituem o MST. A autora considera que estes processos formativos no movimento social vão além daquilo que a escola propicia. Apesar disso, reconhece a importância do papel da escola para a formação dos sujeitos do MST.

Na análise desta autora, nota-se uma pedagogia que tem como sujeito educador principal o MST, que educa os sem-terra enraizando-os em uma coletividade forte, e pondo-os em movimento na luta pela sua própria humanidade. E assinala a existência de uma dialética educativa no movimento, que tem permitido identificar nos seus membros uma consciência de sujeitos sociais vinculados a uma luta social, a uma luta de classe e a um projeto de futuro – um sentido sociocultural.

De acordo com Wanderlei Silva, militante, o compromisso do projeto Todos e Todas Sem Terra Estudando, deve ser uma responsabilidade coletiva de todos os dirigentes e militantes, das escolas e de todos os setores e instâncias do MST, envolvendo desde os núcleos de famílias até às coordenações e direções locais, regionais, estaduais e nacional. Visto que, é necessário envolver todos os militantes do MST na Campanha, assumindo tarefas de articulação e concretização.

A militante Márcia Lima nos fala que para a concretização desses projetos, o MST do Maranhão conta com o apoio de Instituições Internacionais, do Governo do Estado e, claro, de outros movimentos sociais – tais como, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, entre outros.

Assumindo como questão de honra acabar com o analfabetismo nas áreas de assentamentos (terras desapropriadas, legalizadas para o movimento, sendo mais de 62 só aqui no Maranhão) e acampamentos (terras que ainda não foram legalizadas, ocupadas no Maranhão por aproximadamente oito mil famílias que esperam esta decisão), através da adoção de vários métodos pedagógicos inspirados no mestre Paulo Freire - afinal, resolver o problema do analfabetismo no Brasil é uma questão tão nobre quanto o ato de lutar pela terra e pela reforma agrária. Pensando nisso, os militantes do MST no Maranhão, tiveram acesso ao método de alfabetização SIM, EU POSSO! do Instituto Pedagógico Latino Americano e Caribenho de Cuba, no ano de 2005. De lá pra cá, toda a militância e o conjunto do Movimento vem fortalecendo um belo processo de alfabetização pela região.

Segundo Lenilde de Alencar, umas das militantes: “O mais importante é compreender o tamanho da responsabilidade e não permitir que tenhamos companheiros analfabetos em nossas comunidades”.

Para complementar, Zaira Sabry, também militante, diz que esse projeto conta com métodos adequados à realidade de vida de cada jovem e adulto, no nosso caso, à realidade dos trabalhadores rurais, historicamente excluídos do direito à educação, ou submetidos a uma educação precária e distante da sua realidade. Concluindo que a principal tarefa não é só erradicar o analfabetismo no Maranhão, mas em todas as áreas do Brasil. Ou seja, o desafio permanece e a luta continua!